Incidentes
no Senado, relativos à aprovação das contas de FHC, de 1996, mostram o porquê
de se duvidar dos dados revelados pelo governo, a respeito das questões de
interesse do povo.
Em
22.10.97, foi divulgado o parecer do relator, senador Jefferson Peres
(PSDB-AM).
Embora
recomendasse a aprovação das contas, o senador Peres apontava algumas
irregularidades, tais como:
Algumas
estatais gastaram, sem autorização do Congresso. Estouraram seus orçamentos de
investimento em até 9,7%, em flagrante desrespeito à Constituição, que proíbe
isso.
FHC
investiu em educação básica menos que os 50% previsto na Constituição.
Ainda
pisoteando em nossa Carta Magna, FHC não considerou “o índice de repartição por
região” ao executar os programas de investimento em irrigação.
Reduziu
os gastos com saúde e saneamento: 10,3% em relação ao ano interior (1995).
Bem,
essas foram as irregularidades apontadas, sobre as quais assim manifestou-se o
senador Peres: “A um governo engajado na socialdemocracia não cabe esse tipo de
política, desfavorável às camadas menos aquinhoadas.”
No
dia seguinte, porém, 23.10.97, quando o parecer do senador Peres seria
apreciado pela Comissão Mista de Orçamento, os governistas articularam uma
forma de adiar a votação do parecer, temendo que as observações nele contidas
fossem transformadas em munição contra FHC, na campanha eleitoral de 1998. O
próprio presidente da Comissão, senador Ney Suassuna (PMDB-PB) disse ao senador
Jefferson Peres que a sessão seria transferida, porque ele tinha um compromisso
pessoal inadiável. Já na sala da Comissão de Orçamento o senador Suassuna
inverteu o fato, dizendo que o parecer do senador Peres não poderia ser votado,
porque o senador não poderia comparecer à sessão.
Os
governistas sabiam que o senador Peres viajaria, naquele mesmo dia, para o
exterior. Com isso ganhariam, pelo menos, 15 dias para articularem a retirada
das ressalvas do texto. Isso feito, provavelmente nos moldes de outras
“vitórias” conseguidas pelo governo, como a aprovação da reeleição, por
exemplo, o texto foi aprovado, SEM AS RESSALVAS, sob protesto do senador
Jefferson Peres que dizia: “Se não há problema com esses erros, deveriam mudar
a legislação de uma vez.”
Por
esse tipo de atitude, muitos não acreditam na classe política brasileira, que
tem feito por onde não merecer confiança, com raras exceções.
É
verdade que, com relação ao direito constitucional do cidadão ser informado
corretamente, A MÍDIA TAMBÉM NÃO TEM CUMPRIDO O SEU PAPEL. Percebe-se que o seu
compromisso com a verdade e revelação dos fatos, que interessam a maioria do
povo, são até ao ponto em que não afetem os interesses dos seus
patrocinadores.
O
governo está gastando muito dinheiro com publicidade. Está sendo divulgado que
esse valor é de R$ 491 milhões, em 1997. Um verdadeiro escândalo. Substituem a
verdade com artifícios enganadores. Apresentam-nos o Brasil exceção como Brasil
real. Em razão disso, para um posicionamento mais consciente possível, o
cidadão precisa ampliar o seu leque de informações, que devem ser buscadas não
apenas na TV, ou nos jornais de grande circulação como “O Globo” e a “Folha de
São Paulo”, por exemplo, mas, também, nos jornais de outras tendências como “Tribuna
da Imprensa”, “O farol”, jornais sindicais, etc. Isso é fundamental para o
exercício da cidadania de modo responsável, principalmente na hora de votar.
Precisamos pensar, analisar, comparar dados.
A
fonte da informação também deve ser observada, porque pode haver manipulações.
Conforme denúncia da Central Latino-americana de Trabalhadores, o
empobrecimento social do mundo vem sendo ocultado pelas estatísticas.
Realmente,
em nosso caso, por exemplo, nos relatórios das instituições governamentais que
apuram o índice de bem-estar, observa-se que deixam de considerar dados fundamentais
como habitação, escolaridade, etc.
Na
metodologia utilizada para apurar índices relativos à distribuição de renda,
mais manipulações para mascarar a realidade: consideram-se apenas os ganhos com
o trabalho. Excluem-se os ganhos financeiros e patrimoniais. Em resumo: os
ganhos dos especuladores não são considerados para traçar o perfil da
desigualdade social existente.
A seguir, vejamos alguns dados que
projetam o quadro do nosso Brasil real:
Maior
déficit da História, registrado na balança comercial, US$ 8,5 bilhões, em 1997.
Maior
índice de analfabetismo da América Latina.
O
salário mínimo do governo FHC tem o valor mais baixo, desde a sua criação. E é
o menor entre os países do Mercosul.
Segundo
a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 16% das crianças brasileiras,
entre 10 a 14 anos de idade, são exploradas como mão-de-obra barata, das quais
mais da metade não são remuneradas.
Segundo
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), em 1996 o total da
população que trabalha caiu 2,3% em relação ao ano anterior. No campo foi
registrado o maior índice de desemprego, em números absolutos: 1,5 milhão de
pessoas.
A
mendicância cresce cada vez mais. Em São Paulo, por exemplo, o número de
mendigos aumentou 38% pós-Real, em menos de um ano.
A
saúde é um descalabro. Doenças que pareciam erradicadas, como tuberculose,
voltam com força total. Estão sendo registrados 90.000 novos casos de
tuberculose por ano. A miséria e a desnutrição criam condições favoráveis ao
crescimento dessa doença.
O
Brasil tem a maior média de homicídios do mundo, entre os países que não estão
em guerra. O nível de desigualdade social é apontado como a principal causa da
violência, entre outras, como o racismo, alcoolismo, drogas, facilidade de
comprar armas e o baixo índice de escolaridade. No ano de 1996, no Rio de
Janeiro, por exemplo, foram registrados 7.259 homicídios, uma média de 20
mortes violentas por dia, no estado. 99% desses crimes atingiram o seguimento
mais pobre da população. Talvez isso explique o porquê do descaso das
autoridades no combate a esse grave problema.
Dos
65 milhões de pessoas que constitui a mão-de-obra ativa, apenas 27 milhões têm
carteira assinada.
É
tristíssimo o nosso panorama social. Creio que só a união de todos que não se
conformam com essa situação reinante poderá criar as condições necessárias para
a mudança desse terrível quadro do nosso BRASIL REAL.
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