INÍCIO

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

POR QUE PRIVATIZAR NOSSAS ESTATAIS DE SETOR ESTRATÉGICO? (MAI/95)


As privatizações, principalmente da Petrobras e da Telebras, fazem parte da estratégia do neoliberalismo, no sentido de, cada vez mais, esvaziar o estado, para deixá-lo sem nenhum poder. Entretanto, nos países de democracia fraca, como o nosso, não se pode prescindir do poder do estado.
Como justificativa para a não aceitação do controle de preços, os liberais defendem as leis de mercado, segundo as quais os preços dos produtos devem ser estabelecidos em função da oferta x procura. Porém, a liberdade concedida aos empresários exige, em contrapartida, responsabilidade e bom senso.
Como diz certa poetiza:

Eles dizem que o estado
Não precisa ser protetor
Mas não pagam salário justo
Ao cidadão trabalhador

Por isso antes da falácia
De reforma do estado
Reformem suas consciências
Homens vis e abastados

Na prática, no Brasil, as leis do livre comércio têm servido, principalmente, para que alguns empresários satisfaçam as suas ambições pessoais, à custa do empobrecimento do povo. Os dados estatísticos, a cada ano, refletem essa triste realidade. Não tem havido, da parte deles, qualquer interesse no sentido de se adotar uma fórmula de modo a que todos ganhem com os frutos da modernidade. Tem ocorrido, isso sim, uma enorme transferência de renda, principalmente para o setor financeiro. Fato esse que levou o próprio FMI a classificar o Brasil como “o campeão mundial da usura”. Aliás, independente do FMI dizer ou não, isso é um fato que salta aos olhos de todos aqueles que querem enxergar.
Nesse contexto, existem megaempresários que estão se tornando os verdadeiros donos do Brasil. São eles que criam obstáculos à participação dos empregados nos lucros das empresas, sob a alegação de que precisam dos recursos para investir, em virtude de o país não ter poupança interna para aplicar em investimentos.
HIPÓCRITAS! Pelo visto o povo brasileiro não tem tido condições de poupar, e nunca terá, enquanto esses senhores abocanharem todos os lucros, todas as rendas e todas as nossas riquezas. Portanto, em detrimento do poder institucional do estado, temos vivido numa verdadeira ditadura do poder econômico.
São a esses senhores que interessam as privatizações das nossas estatais lucrativas. Muitas vezes por eles adquiridas com os recursos do próprio governo, mediante empréstimos concedidos a taxas subsidiadas pelo BNDES, conforme já foi denunciado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Com relação a essas distorções, em outros tempos, o político Fernando Henrique Cardoso dizia o seguinte: “Se hoje o estado está endividado, falido, é porque nos últimos cinquenta anos, em nome do desenvolvimento, ele transferiu maciçamente recursos do conjunto da sociedade para grupos privados” (FHC/1990).
Hoje, por razões óbvias, o presidente Fernando Henrique parece não pensar da mesma forma. Mas, afinal, não é exatamente isso que tem acontecido?
Na época da implantação do real, enquanto o governo massacrava o povo, arrochando salários, reduzindo as já minguadas verbas da educação e da saúde, etc., o BNDES tinha, em fevereiro de 1994, uma reserva no valor de US$ 1,8 bilhão. Isso após promover a farra da privatização, conforme ocorreu com a CSN. A estatal foi vendida por US$ 138 milhões e, uma semana depois, o governo devolveu aos “compradores” US$ 100 milhões, como “empréstimo”. Enquanto isso os trabalhadores da empresa têm encontrado a maior dificuldade para conseguir financiamento para comprar as suas cotas.
 Portanto, o governo é falido apenas nos órgãos que deveriam prestar assistência ao povo, como saúde e educação. Todavia, tem tido recursos para continuar beneficiando os seus eternos protegidos.
Convém esclarecer que não sou contra a privatização por mero idealismo radical. Sou contra a privatização sem critérios justos. Sou contra a privatização das nossas estatais de setores estratégicos, por razões óbvias. Sou contra a vergonhosa entrega que tem ocorrido até o momento. Finalmente, sou contra o engodo ao qual o povo tem sido submetido. A história de que “o cobertor é curto”, como disse FHC em sua campanha eleitoral, não é verdadeira. O problema é que uma minoria puxa demais o cobertor, enquanto a maioria fica ao relento.
Que ninguém se iluda: o poder econômico quer o estado cada vez mais pobre, porque sabe que, quanto mais empobrecido ele for, menos poder terá e menos condições de realizar as reformas sociais de acordo com os interesses do povo, para a concretização de uma sociedade mais justa.
Finalmente, não podemos ignorar o fato das privatizações terem se tonado em excelentes oportunidades para a lavagem do dinheiro da corrupção política e do comércio das drogas, tanto assim que, hoje, na Rússia, 60% das estatais são controladas por quadrilhas. Por essa razão exorto o presidente Fernando Henrique a pensar bem no que está fazendo.


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