INÍCIO

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

QUEM ESTÁ SENDO BENEFICIADO? (MAI/97)

 Esse negócio de dizer que, com o real, o povo vai bem, obrigado, é coisa da mídia. Pois, se tem melhorado para uns, tem piorado para tantos outros, em maior quantidade. Vamos aos fatos:
É real que alguns estão se beneficiando. Mas, quem são essas pessoas que estão sendo beneficiadas, e quem está pagando essa conta, ou vai pagar no caso do rombo nas contas públicas, que têm aumentado a cada ano, mesmo com as privatizações?
Fazendo aqui um parêntese, segundo estudo do economista Fernando Ribeiro, do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), só a dívida desde ano, 1997, será de mais de US$ 20 bilhões. Portanto, vender a Vale do Rio Doce, uma das maiores empresas mineradoras do mundo, por valor abaixo do valor da empresa Nabisco (empresa norte americana de biscoito que foi vendida por US$ 28 bilhões), como fez FHC, não cobre nem os juros da dívida que, em 1997, deve ser de US$ 10,5 bilhões.
Mas, voltando a nossa análise, em outros tempos FHC, em seu livro social-democracia, dizia o seguinte: “Para que um ajuste da economia funcione, realmente, vai ter que sacrificar quem até hoje foi poupado: os mais ricos dentro do Brasil, e os credores da dívida externa que naturalmente vão resistir a isso.”
Contraditoriamente ao que dizia FHC (e a Sra. Brigitte Leoni ainda diz que ele não mudou), creio que todos se lembram de quem foram os sacrificados à época da implantação do real. Por isso vou concentrar a minha análise no que ocorreu mais recentemente, em especial no ano de 1996:
Considerado como “o ano de ouro dos bancos”, pelo sindicato dos bancários, em virtude dos lucros astronômicos obtidos, 1996 entrou para a história. O Bradesco, por exemplo, teve um lucro espetacular, R$ 824 milhões, “o maior já atingido por uma empresa privada nacional.”
Segundo relatório da Consultoria de Investimentos Sirotsky & Associados, o setor financeiro foi o que apresentou os maiores lucros, nos últimos dez anos. Em contrapartida, os bancos estão entre as instituições que mais demitiram. Em 1996, só no Rio de Janeiro, foram demitidos 7.736 trabalhadores.
Os bancos que têm quebrado têm sido por má administração e/ou administração fraudulenta. Por exemplo, o Bamerindus, um dos bancos quebrados, foi um dos principais financiadores da campanha eleitoral do presidente FHC. E o caso da pasta rosa, do banco Econômico, também falido? Essa pasta continha documentos que se constituíam em sérios indícios do envolvimento irregular desse banco em campanhas eleitorais de alguns senhores da cúpula política nacional, aliados do presidente FHC. Caso digno de uma CPI, que foi jogado para debaixo do tapete.
Mas, voltando ao lucro astronômico dos bancos, em 1996, seria maravilhoso se isso tivesse sido fruto de um crescimento espetacular também da nossa economia. Contudo, sabemos que, nesse ano houve uma retração do nosso crescimento econômico, o qual não chegou a 3%.
A divulgação de informações pelo Banco Mundial, sobre o volume de investimentos dos países ricos nos países do Terceiro Mundo: Em 1996, no Brasil, houve um decréscimo. Em 1995 foram investidos US$ 19 bilhões, em 1996 caiu para US$ 14,7 bilhões.
Portanto, precisamos ficar atentos, pois, ainda que estivessem aumentando os investimentos, no Brasil, que não é o caso, algumas questões teriam que ser respondidas:
Em que estão investindo?
Quem está lucrando?
O que estão levando ou irão levar em troca desses investimentos?
Infelizmente, a verdade é dura: para que aumentar os investimentos, no Brasil, se estão tendo um ganho de capital, através dos juros escorchantes que o governo está pagando para atrair o capital especulativo, e, desse modo cobrir o rombo de suas contas no exterior? Sabemos que essa tem sido a estratégia do governo, diante dos constantes déficits na balança comercial (valor da importação maior que o da exportação).
Quanto aos bancos, dentro do Brasil, para que financiar a produção FIO se podem obter lucro fácil como, por exemplo, através da negociação dos títulos podres (papéis sem lastro) com o governo?      Ora, se os bancos aqui dentro e lá fora estão tendo lucros fabulosos, com o Brasil, e isso não é fruto de um grande crescimento da economia como um todo, É CLARO, É OBVIO, É LÓGICO QUE ISSO ESTÁ OCORRENDO POR UM PROCESSO DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA, que salta aos olhos, refletida no aumento do desemprego e na dificuldade que os jovens têm para conseguirem o seu primeiro emprego, pois, segundo dados da Fundação Seade e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Diese), em 1996 essa dificuldade cresceu 21% para os jovens entre 18 e 24 anos, e 38,7% para os jovens entre 15 e 17 anos; e na perda do poder aquisitivo dos trabalhadores, com aumento de despesas, que representam rombos em seus salários, como, por exemplo, o reajuste das tarifas públicas do governo que, só em 1996, foi de 112%.





MODERNIDADE? PRA ELES

Eles vivem a defender
A tal de modernidade
Mas isso é coisa pra eles
E não pra toda sociedade

Muito pelo contrário
A coisa ainda fica pior
Para aumentar os seus lucros
Demitem o trabalhador

Veja nos bancos o exemplo
Onde as filas continuam
Pra eles todo conforto
Pro povo a verdade mais crua

Não se importam se o cliente
Padece na fila a esperar
O que lhes importa mesmo
É ver seus lucros aumentar

Querem a tal modernidade
Em proveito pessoal
Pro resto da sociedade
O “apartheid” social

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